Gênero textual: quadrinhos

Os gêneros, considerados “tipos relativamente estáveis de enunciado”, são marcados sócio-historicamente, pois estão diretamente relacionados às diferentes situações sociais. Estas determinam um gênero com características próprias.  Bakhtin (2000) escreve a esse respeito: 

Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana, o que, é claro, não contradiz a  1128 unidade nacional de uma língua. O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua mas, acima de tudo, por sua construção composicional. (p.261). 

 Assim, poderia afirmar-se que os gêneros textuais representam qualquer texto que cumpre uma finalidade social e que aparece em um tipo de situação, apresentando propriedades específicas. Um exemplo de texto bem cotidiano são os quadrinhos. Eles possuem uma modalidade própria de linguagem, combinando dois tipos de códigos gráficos: o visual e o lingüístico. Segundo Lins & Pereira (2006), além dos dois códigos, há a presença dos balões que, juntamente com as onomatopéias, determinam um discurso direto e um efeito de natureza sonora. Toda essa combinação revela os quadrinhos como material privilegiado para análises lingüísticas, tendo como foco de estudo a interação. Para a explicação de fenômenos lingüísticos, os códigos visual e verbal complementam-se mutuamente, suprindo as lacunas existentes. Desse modo, os quadrinhos mantêm um texto coerente, em que imagem e texto mostram, simultaneamente, a cena e a fala das personagens, permitindo uma análise comportamental de personagens em geral.  A partir desse momento de interação que os quadrinhos representam, observa-se que há alterações no contexto, de acordo com as personagens, a situação e, até mesmo, o conhecimento por parte do leitor das tiras.  Koch (2006,) explica que: 

O contexto, da forma como é hoje entendido no interior da Lingüística Textual abrange, portanto, não só o co-texto, como a situação de interação imediata, a situação mediata (entorno sociopolítico-cultural) e também o contexto sociocognitivo dos interlocutores que, na verdade, subsume os demais. Ele engloba todos os tipos de conhecimentos arquivados na memória dos actantes sociais, que necessitam ser mobilizados por ocasião do intercâmbio verbal: o conhecimento lingüístico propriamente dito, o conhecimento enciclopédico, quer declarativo, quer episódico (frames, scripts), o conhecimento da situação comunicativa e de suas ‘regras’ (situacionalidade), o conhecimento superestrutural (tipos textuais), o conhecimento estilístico (registros, variedade de língua e sua adequação às situações comunicativas), o conhecimento sobre os variados gêneros adequados às diversas práticas sociais, bem como o conhecimento de outros textos que permeiam nossa cultura (intertextualidade). (p.24). 

 Dessa forma, algumas noções, como footing e enquadres, podem ser trabalhadas no gênero quadrinhos, a fim de se perceber alterações contextuais nas interações das tiras, devido a questões socioculturais. 


O texto completo pode ser encontrado AQUI ou na biblioteca do blog.


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